quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Artemídia?

Ao longo do final do século passado um série de projetos artísticos híbridos entre ciência, arte e tecnologia viria a surgir como resposta ás profundas mudanças operadas na sociedade pelas novas tecnologias, em especial as tecnologias digitais da informação, em suas diversas variantes: imagens produzidas por computador, animação digital, instalações interativas, filmes interativos, arte telemática, ambientes de realidade virtual, instalações robóticas, game art e bioarte entre outros.

A artemídia ou new media art não configuram um movimento em si, mas antes um gênero de produção artística - e geralmente não participa do sistema comercial das artes plásticas, circulando em espaços próprios. No caso da artemídia, os problemas são mais aqueles pertinentes à própria tecnologia e ciência do que aqueles com que lidam, de maneira geral, os artistas contemporâneos informados pela história da arte do último século.

Mas o pensamento da artemídia exerce de fato influência direta sobre a produção de arte sonora? Pode-se argumentar, tomando determinadas definições de arte sonora, que parte considerável desta forte ligação com as tecnologias recentes (CAMPESATO: 2007). Com efeito, alguns artistas indicam o fato de a produção haver ganhado agilidade e flexibilidade na passagem para as formas digitais de registro, processamento e reprodução do som, e a digitalização permitiu também uma maior facilidade quanto à criação de efeitos sinestésicos.

Mas não parece o caso de influência direta: as tecnologias determinantes nas questões exploradas pela maioria os artistas sonoros são mais que os meios digitais contemporâneos, aquelas disponíveis ao longo da maior parte do século passado: estas já ofereciam a maioria das possibilidades de gravação, manipulação e execução do som permitidas pelos meios digitais. Parece-nos que a artemídia contribuiu para a arte sonora não como pensamento, mas apenas através da incorporação de alguns formatos - os recursos da interatividade digital, imersivos e telepáticos servem de suporte aos discursos poéticos de uma fração do repertório da arte sonora.

Pode-se afirmar em todo o caso, que a artemídia empresta seu campo de problemas a uma parte ainda menor da produção de arte sonora. Neste caso, as obras investigarão questões ligadas às ciências e às especificidades dos suportes tecnológicos, e não os aspectos discursivos, sociais e formais sobre os quais se debruçam os artistas plásticos há meio século.

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