Dentre nossa pesquisa sobre Arte Sonora, tínhamos como objetivo inicial buscar conteúdos que fossem brasileiros, mas após uma breve pesquisada, notamos que o conceito de Arte Sonora é muito recente, ainda mais no Brasil, e consequentemente é difícil se obter resultados em páginas virtuais brasileiras, mas pesquisando um pouco mais, notamos que há sim algumas informações e sites nacionais com conteúdos super interessantes e que apesar de ser ainda um conceito complicado de ser definido, a Arte Sonora vem cada vez mais se espalhando pelo Brasil.
Vou deixar aqui abaixo o link de uma sugestão de fonte de conteúdos nacional sobre Arte Sonora, um blog muito abrangente e de muita referência para nossa pesquisa, inclusive fonte de muitos de nossos textos.
Se considerarmos o termo em sua maior abrangência, a história da música envolve ao menos: As origens culturais da música em cada grupo humano estudado. As influências culturais e sociais que a música exerce e sofre ao longo de seu desenvolvimento. A origem e evolução de seus sistemas musicais característicos (que envolvem suas estruturas rítmicas,melódicas e harmônicas). O desenvolvimento das formas musicais e dos gêneros e estilos. A história dos instrumentos musicais e técnicas associadas à sua execução. A influência mútua entre a música e os demais movimentos culturais. A origem e evolução dos sistemas teóricos utilizados para estudá-la, incluindo sistemas de notação e análise musical. As principais personalidades envolvidas na sua evolução. Os compositores e músicos que marcaram cada período ou gênero específico ou que impulsionaram o desenvolvimento de novas formas, estilos e gêneros. A cronologia de todos estes temas. Os métodos usados no estudo da história da música podem incluir a análise de manuscritos e iconografia, o estudo de textos críticos ou literários, a associação entre música e linguagem e a relação entre a música e a sociedade. A análise de artefatos arqueológicos e a documentação etnográfica também são instrumentos úteis a este campo do conhecimento.
A História da música e a etnologia
Uma das razões do conceito difundido de que história da música refere-se apenas à música ocidental é a grande quantidade de obras existentes que tratam apenas desta vertente e predominaram por muitos séculos. Apenas após o surgimento da etnomusicologia (uma área da etnologia), foi que as origens da música não européia passaram a ser mais bem documentadas. Nos estudos da música primitiva que tentam relacionar a música às culturas que as envolvem, há duas abordagens prevalecentes: a Kulturkreis da "Escola de Berlim" e a tradição norte americana da área cultural. Entre os adeptos da Kulturkreis está Curt Sachs, que analisou a distribuição de instrumentos culturais de acordo com os círculos culturais estudados por Gräbner, Schmidt, Ankermann e Preuss, entre outros, e descobriu que as distribuições coincidiam e estavam correlacionadas. De acordo com esta teoria, todas as culturas passam pelos mesmos estágios e as diferenças culturais indicam a idade e velocidade de desenvolvimento de uma dada cultura.
A teoria da área cultural, por outro lado, analisa a música de acordo com as regiões nas quais as pessoas compartilham a mesma cultura, sem atribuir a essas áreas um significado ou valor histórico (por exemplo, todos os Inuit tradicionais possuíam um caiaque, um traço comum que define a área cultural Inuit). Em cada uma das teorias, as regiões definidas necessariamente se interceptam, com pessoas que compartilham partes de mais de uma cultura, permitindo a definição dos centros culturais pela análise de seus limites. A etnologia analisa e documenta as manifestações culturais oralmente e as correlacionam às suas regiões para determinar a história de cada cultura. Isso inclui todas as manifestações artísticas, inclusive a música.
domingo, 6 de outubro de 2013
A maximalização sonora, permitiu que a música passasse a ser compreendida como a arte do som, e não mais das notas musicais. A
ampliação de possibilidades composicionais são infinitas: desde os
instrumentos sinfônicos, passando pela experimentação não convencional
destes mesmos instrumentos, a busca e construção de instrumentos
alternativos, a percussão corporal, a música vocal, as esculturas
sonoras, instalações, performances sonoras e a mais investigada de todas
as "músicas" contemporâneas: a música eletroacústica. Dentre as diferentes ramificações possíveis da música eletrônica, está a paisagem sonora. Não
é possíveis esquecer de Pierre Schaeffer o pai da música concreta, que
com seus gravadores de fita magnética compôs e catalogou milhares de
sons em sua tipo-morfologia.
A música (dogrego- musiké téchne, a arte das musas) é uma forma de arte que constitui-se basicamente em combinarsonsesilêncioseguindo ou não uma pré-organização ao longo do tempo. É considerada por diversos autores como uma práticacultural e humana. Atualmente não se conhece nenhuma civilização ou agrupamento que não possua manifestações musicais próprias. Embora nem sempre seja feita com esse objetivo, a música pode ser considerada como uma forma de arte, considerada por muitos como sua principal função. A criação, a performance, o significado e até mesmo a definição de música variam de acordo com a cultura e o contexto social. A música vai desde composições fortemente organizadas (e a sua recriação na performance), música improvisada até formas aleatórias. A musica pode ser dividida em gêneros e subgêneros, contudo as linhas divisórias e as relações entre gêneros musicais são muitas vezes sutis, algumas vezes abertas à interpretação individual e ocasionalmente controversas. Dentro das "artes", a música pode ser classificada como uma arte de representação, uma arte sublime, uma arte de espetáculo. Para indivíduos de muitas culturas, a música está extremamente ligada à sua vida. A música expandiu-se ao longo dos anos, e atualmente se encontra em diversas utilidades não só como arte, mas também como a militar, educacional ou terapêutica (musicoterapia). Além disso, tem presença central em diversas atividades coletivas, como os rituais religiosos, festas e funerais. Há evidências de que a música é conhecida e praticada desde a pré-história. Provavelmente a observação dos sons da natureza tenha despertado no homem, através do sentido auditivo, a necessidade ou vontade de uma atividade que se baseasse na organização de sons. Embora nenhum critério científico permita estabelecer seu desenvolvimento de forma precisa, a história da música confunde-se, com a própria história do desenvolvimento da inteligência e da cultura humana.
Em 1994, Rui Toscano (Lisboa, 1970) produziu uma escultura sonora que se viria a revelar determinante no desenvolvimento da sua prática artística nos anos subsequentes. Bricks are Heavy, assim se intitulava, inaugurou uma genealogia de obras em que o artista utiliza o radiogravador simultaneamente como elemento escultórico e como sistema de amplificação sonora. O radiogravador era, já em meados da década de 1990, um objeto obsoleto, em vias de desaparecimento, e isso tornou cada vez mais difícil, mas não impediu, o desenvolvimento deste corpo de trabalhos, como comprovam duas novas esculturas sonoras, uma delas projetada há dez anos.
A referência à cultura rock, e por essa via a uma determinada cultura juvenil que o artista perfilhava, estava muito presente nas duas primeiras dessas peças – também em (...They Say We’re Generation X But I Say We’re Generation Fuck You!), de 1995. Mas o que persiste em todas elas, e que poucos terão notado na década de 1990, é uma muito particular reativação da linguagem formal característica da escultura minimalista a partir de premissas, atitudes e questões estranhas a essa tradição. Rui Toscano elabora quadros de experiência e de sentido a partir do cruzamento entre formas simples, minimais, e ocorrências sonoras através das quais o real e a representação irrompem. A esta dimensão discursiva alia-se, frequentemente, uma dimensão autorreferencial da obra de arte.
Dança de Cogul. Imagem encontrada em Cogul, Espanha. Mostra a dança das mulheres em torno de um homem nu. Somente através do estudo de sítios arqueológicos podemos ter uma ideia do desenvolvimento da música nos primeiros grupos humanos. Aarte rupestreencontrada emcavernasdá uma vaga ideia desse desenvolvimento ao apresentar figuras que parecem cantar, dançar ou tocar instrumentos. Fragmentos do que parecem ser instrumentos musicais oferecem novas pistas para completar esse cenário. No entanto, toda a cronologia do desenvolvimento musical não pode ser definida com precisão. É impossível, por exemplo, precisar se a música vocal surgiu antes ou depois das batidas com bastões ou percussões corporais. Mas podemos especular, a partir dos desenvolvimentos cognitivos ou da habilidade de manipular materiais, sobre algumas das possíveis evoluções na música.
Na sua "História Universal da música", Roland de Candé nos propõe a seguinte seqüência aproximada de eventos:
Antropóidesdoterciário- Batidas com bastões,percussãocorporal e objetos entrechocados.
hominídeos do paleolítico inferior - Gritos e imitação de sons da natureza.
Paleolítico Médio - Desenvolvimento do controle da altura, intensidade e timbre da voz à medida que as demais funções cognitivas se desenvolviam, culminando com o surgimento do Homo sapiens por volta de70.000 a 50.000 anos atrás.
Cerca de 40.000 anos atrás - Criação dos primeiros instrumentos musicais para imitar os sons da natureza. Desenvolvimento da linguagem falada e do canto.
Entre 40.000 anos a aproximadamente 9.000 a.C - Criação de instrumentos mais controláveis, feitos de pedra, madeira e ossos: xilofones, litofones, tambores de tronco e flautas. Um dos primeiros testemunhos da arte musical foi encontrado na gruta de Trois Frères, em Ariège, França. Ela mostra um tocador de flauta ou arco musical. A pintura foi datada como tendo sido produzida em cerca de 10.000 a.C.
Neolítico (a partir de cerca de 9.000 a.C) - Criação de membranofones e cordofones, após o desenvolvimento de ferramentas. Primeiros instrumentos afináveis.
Cerca de 5.000 a.C - Desenvolvimento da metalurgia. Criação de instrumentos de cobre e bronze permitem a execução mais sofisticada. O estabelecimento de aldeias e o desenvolvimento de técnicas agrícolas mais produtivas e de uma economia baseada na divisão do trabalho permitem que uma parcela da população possa se desligar da atividade de produzir alimentos. Isso leva ao surgimento das primeiras civilizações musicais com sistemas próprios (escalas e harmonia).
Liderados por Filippo Marinetti, os futuristas iriam lançar em 1909 a pedra fundamental da estetização de uma recém-chegada era da máquina e da velocidade, com o seu Manifesto Futurista, e Balilla Pratella em 1911 o estenderia com seu Manifesto dei musicisti futuristi e o seu Manifesto tecnico della musica futurista. Concertos de música futurista não eram incomuns, mas baseavam-se originalmente no mesmo tipo de dispositivo da música de concerto vigente: amparada em músicos de fraque, regente, violinos, celos e tímpanos, as peças musicais futuristas disputavam espaço no calendário das salas com óperas de Puccini. No campo da música, pelo menos até aqui, a estética futurista não avançaria além da retórica, e pouca importância teria em uma forma musical específica.
Somente em 1913, o então pintor Luigi Russolo faria a ligação do projeto futurista com uma proposta mais efetivamente musical, através do manifesto A arte do ruído, onde propõe os ruídos das máquinas como elemento construtivo fundamental de uma música do futuro, organiza-os em uma tipologia (que antecipa a empreendida por Pierre Schaeffer, de muito maior alcance, mais tarde), e conclama os jovens compositores à produção de sons nunca antes ouvidos:
We therefore invite young musicians of talent to conduct a sustained observation of all noises, in order to understand the various rhythms of which they are composed, their principal and secondary tones. By comparing the various tones of noises with those of sounds, they will be convinced of the extent to which the former exceed the latter. This will afford not only an understanding, but also a taste and passion for noises. After being conquered by Futurist eyes our multiplied sensibilities will at last hear with Futurist ears. In this way the motors and machines of our industrial cities will one day be consciously attuned, so that every factory will be transformed into an intoxicating orchestra of noises. (RUSSOLO: 1913)
A partir daí, Russolo abandonaria o pincel e a paleta e passaria a desenvolver ele mesmo suas intonarumori ou máquinas produtoras de ruído, e escreveria diversas peças para elas. Cabe observar, porém, que seus instrumentos eram construídos com madeira, peles e manivelas, e pelo que consta no máximo um ou outro talvez contivesse um motor elétrico. De toda forma, Russolo foi visionário ao antecipar, já na época, um presente dominado pela técnica, e buscar no som das máquinas da época uma forma de superar o passado, encarnado nas convenções musicais vigentes, em favor de um passo rumo àquilo que via como futuro.
A despeito de à época essa música ter tido pouquíssima aceitação e de ter causado pouca influência mais direta, no presente contexto nos interessa o fato de ter sido um antecessor de Cage e Schaeffer, advogando a incorporação do ruído do mundo à sua volta (e, por extensão, de todo tipo de som) à gama sonora disponível aos compositores, mas também o fato de ser originariamente um pintor que buscou tornar tangíveis seus ideais estéticos lançando mão do som como meio, contra o senso acerca do que deveria ser, àquele tempo, a música. Robert P. Morgan vê no trabalho de Russolo um ponto de virada fundamental, que perdura na música ocidental:
Though Russolo remains a largely forgotten figure in music history, his sudden appearance on the musical scene in 1913 can be viewed as marking a critical historical juncture, supplying the final link in a chain initiated in the early Romantic aesthetics of autonomous music. That he represented not merely a point of termination, but one of origin, has been made clear by subsequent Western music. Russolo's vision of a new kind of music, offering materiality as a replacement for its lost spirituality, has proved remarkably fertile, and has shown little sign of exhaustion. (MORGAN: 1994)
Mais recentemente, alguns críticos vêm apontando as ideias de Russolo como a própria origem da música techno e suas variantes (não só sob a perspectiva da incorporação do ruído como som musical, mas também pela estetização da máquina e da velocidade) (ROTONDI: 2002).
Além disso, é preciso ver em Russolo o espírito de questionamento radical do próprio material sonoro incorporado ao universo musical, antecipando em décadas, mesmo que sem a mesma autoconsciência, o espírito filosófico e de reflexão mais ampla sobre a música de compositores como Cage. Também é importante notar, mesmo que haja antecedentes menos relevantes na musical ocidental, que é a mais relevante tentativa de reinserção da referência a elementos externos, de forma sistemática, na linguagem musical até então.